SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Suspeito
de corrupção, o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) agendou o
encontro de Michel Temer com o empresário Joesley Batista na véspera da
reunião, em março, e disse ao agora delator que era um "emissário" do
presidente na Câmara.
O áudio da conversa entre Rocha Loures
e Joesley, também gravado pelo empresário, faz parte das provas que ele
entregou à Justiça em seu acordo de colaboração premiada.
Na conversa, do dia 6 de março, o
deputado federal sugere o horário e checa qual dia seria o melhor para o
presidente receber o empresário.
Joesley diz que vem falando com
interlocutores do presidente, mas agora precisa de "uma meia horinha de
conversa".
"O que ele me pediu: ele fala com
você a hora que você quiser. Ele prefere te atender à noite, no Jaburu, a
partir de umas 11 da noite, dez horas", disse o deputado afastado.
"Amanhã [dia 7 de março] acho que
é um dia bom", continua Rocha Loures. O encontro ocorrido no dia seguinte
foi registrado por Joesley e provocou a maior crise do governo Temer.
Acertados a data e o horário, Joesley
e o congressista passam a falar sobre a situação do governo. Rocha Loures conta
que iria assumir seu mandato na Câmara, como suplente do agora ministro da
Justiça Osmar Serraglio, com a missão de unir o PMDB na Casa em favor das
reformas e que já entraria como vice-líder do governo.
Ele cita entre as dificuldades do
governo a saída de cena de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi cassado e preso.
"O Eduardo levava a bancada com muita presença."
Rocha Loures, que foi assessor de
Temer, diz ainda que continuaria com mesma função, "só que do outro lado
da rua", em referência ao Congresso.
A Joesley falou também que um de seus
papéis em Brasília era a interlocução entre ministros. "Às vezes quando
ele [Temer] precisa apertar um parafuso entre a equipe, ele não fala
diretamente. Eu falo."
Os dois conversam sobre a expectativa
da delação da Odebrecht, ainda sob sigilo naquela época, e Rocha Loures opina
que a situação dos ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco no governo era
delicada.
"Os prazos de defesa são
alongados. Os procedimentos, mesmo em quaisquer circunstâncias, desse pessoal
que têm foro em Brasília só vão ser julgados em 19. Ainda tem uma longa estrada
a ser percorrida", diz o congressista.
A conversa, de 36 minutos, foi gravada
em um café ou bar, enquanto os dois bebem água.
BNDES
Ao ouvir reclamações de Joesley sobre
a gestão de Maria Sílvia à frente do BNDES, Rocha Loures sugere que o
empresário repita suas queixas ao presidente, no encontro do dia seguinte.
"Aproveita para dizer para ele que isso aqui está muito ruim", disse.
Joesley, de fato, falou sobre
dificuldades no BNDES com Temer. Ao deputado o empresário defendeu que o banco
seja mais flexível. "O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social só faz sentido para [financiar] projeto em que a conta não fecha",
disse.
Em um trecho da conversa, o empresário
reclama que o real está muito valorizado e defende que a taxa de câmbio na casa
dos R$ 3,40. Curiosamente, o dólar atingiu essa taxa no dia seguinte à
divulgação da conversa de Joesley com Temer, diante da incerteza na economia.
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