Vítima teve o celular
'clonado' e valores sacados próximos ao limite da conta bancária
O golpe é
sofisticado. Em silêncio, sem abordagens às vítimas e rápido. Tudo o que os
estelionatários precisam é ter acesso a seus dados pessoais, nome, filiação e,
especialmente, a assinatura e seu número de telefone celular. No espaço de
algumas horas, o crime é consumado: cheques com cifras próximas ao valor limite
da conta bancária são descontados na boca do caixa.
A história começou
assim: demora no envio dos talões ao cliente. Se você não tem o hábito de
consultar sua conta com frequência, é bom começar a fazê-lo. No dia 12, ao
consultar o extrato via internet banking, a vítima constatou que foram
descontados cheques em valores altos, próximos ao limite de R$ 5 mil.
Imediatamente, o
morador de Santos ligou para o Banco Santander e fez a queixa. A atendente
pediu o envio de dados: os números e valores dos cheques descontados e um
Boletim de Ocorrência.
Na agência onde tem
conta, a gerente entrou no sistema interno do banco e resgatou as cópias dos
cheques descontados, a hora da transação e a agência onde foram efetuados – no
caso, todos em agência na Capital. Um terceiro cheque havia sido depositado em
outro banco.
“Quis ver a
assinatura, pois o banco tem como conferir. E ela estava lá, semelhante a que
eu faço”, disse o cliente X.P. (nome fictício), vítima do golpe. Ele,
indignado, questionou a gerência: “Mas vocês sempre ligam para o cliente quando
o valor é alto e isso não ocorreu”. Vem aí a parte mais sofisticada do golpe.
No dia anterior ao
fato, em 11 de janeiro, o celular da vítima simplesmente ficou sem rede, não
efetuava ligações, tampouco recebia chamadas. X.P. só percebeu a “pane” no
aparelho por volta das 15h30, quando se dirigia ao trabalho. Até o 4G, com o qual
acessa a internet, estava sem operação. A vítima conversou com alguns colegas,
mas nada podia ser feito. Só achou estranho.
Em seguida, X.P.
ligou para a operadora de telefonia Vivo, mas como houve demora no atendimento,
desistiu da consulta. Até aqui, nada que gerasse dúvidas sobre um golpe em
andamento. Mas voltando ao dia 12, no banco, a gerente mostrou que houve sim a
consulta sobre os cheques por meio do celular da vítima. No verso das cópias
dos cheques fraudados, constava o horário da consulta e o número do celular do
cliente.
“Na hora, cheguei à
conclusão de que a tramoia envolvia um hacker, que teve acesso às configurações
do meu celular, desviando as ligações para um outro aparelho”, disse
X.P..
Mais um
Resolvido o impasse
no banco, a vítima foi até uma loja Vivo. Lá, ao relatar o fato, a atendente
fez a expressão típica de que o golpe não era tão novo. Mas foi providencial no
atendimento.
“Ela (a funcionária)
entrou no histórico da minha conta e verificou que, no dia anterior (11/1),
alguém se identificando como dono da minha linha tinha solicitado o bloqueio da
mesma, por volta das 11 horas, para comunicar que seu aparelho fora furtado”,
detalha.
Mais tarde, por volta das 14 horas, a pessoa foi à loja e colocou um chip novo, com o número da vítima, reabilitando a linha. Para isso, de acordo com a atendente, a pessoa precisa ter documentos em mãos, como um RG, por exemplo, para concretizar o pedido.
Foi apresentado um
documento falso, com dados do cliente (RG, CPF e assinatura) e uma foto da pessoa
que estava aplicando o golpe. Pronto, a linha acabava de ser reabilitada em
outro aparelho. No caso, o celular de X.P. seguia sem comunicação de rede.
Número fixo
Para efetuar os
saques na boca do caixa, nos valores de R$ 4.235,50 e R$ 4.473,00, a pessoa foi
quase que no final do expediente bancário, após as 15h30. Nesse momento, o
banco passou a fazer a consulta, via telefone, para a vítima a fim de confirmar
a autorização de pagamento.
O funcionário ligou
para o telefone cadastrado do cliente, que deu o aval para o desconto dos
cheques. O problema é que o número, já efetuado o bloqueio da linha e a
reabilitação em outro chip, estava em poder dos golpistas.
A quadrilha também
tratou de deixar inoperante o número fixo do cliente. “Entre 15h30 e 16h30 do
dia do golpe, minha filha relatou que o telefone de casa não parava de tocar.
Quando atendia, a pessoa desligava. Isso ocorreu insistentemente, até que ela
desistisse de atender.
Qual era o objetivo?
Deixar a linha ocupada enquanto se processava o crime, para que o banco não
tivesse acesso ao número fixo, mas apenas ao aparelho celular que teve o número
cancelado e reabilitado em outro dispositivo eletrônico”, explica.
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