por: Luiz Flávio Gomes
Eike Batista é o
retrato fiel da bandidagem político-empresarial corrupta que confiava piamente
(até o final de 2016) num grande “acordão” das elites de todos os poderes para
enterrar a Lava Jato.
Os donos cleptocratas
do poder diziam: “Com a prisão do Lula a operação está de bom tamanho”. É
preciso “estancar a sangria” (Jucá).
Três foram as
tentativas (no 2º semestre de 2016) de aprovar um “anistião” (uma lei de anistia, pelo menos
do caixa dois). Operações sem êxito. A anistia continua sendo um sonho de
consumo.
No dia 30/11/16,
quando a Câmara trucidou (triturou) as dez medidas anticorrupção (medidas já
bastante expurgadas no relatório final do deputado Onyx Lorenzoni), ainda era
enorme a confiança da bandidagem na sua vitória. O ministro Fux anulou essa
votação (mas sua decisão ainda depende da convalidação do Plenário do STF).
A certeza da
impunidade das castas aumentou quando o crime organizado político-empresarial
(com intervenções de Gilmar Mendes, FHC, Aécio, próceres do PT, como o senador
Jorge Viana, e toda cúpula do PMDB, incluindo Sarney, Temer etc. – ver Veja) conseguiu o grande “conchavão” no STF (em
7/12/16), para manter o réu Renan na presidência do Senado.
Neste princípio do
ano 2017 caiu a ficha da bandidagem que está em guerra com o império da lei:
ela percebeu que a Lava Jato se transformou na maior operação policial-judicial
em andamento do mundo.
Ela conta com um
arsenal probatório inimaginável: 1,2 milhão de gigabytes estão sendo
processados. E uma tonelada de delações importantes estão para vir a público.
Mais: vários países
do planeta (a começar pelos EUA – departamento de Justiça e SEC – e Suíça –
Ministério Público, além de Panamá, Peru, Equador, Argentina etc.) estão
investigando as empresas e os políticos brasileiros envolvidos em corrupção
(estão sendo escrutinadas sobretudo suas contas bancárias).
A bandidagem
político-empresarial já começa a lutar claramente pela sua sobrevivência
(política e econômica). Estão querendo interferir diretamente na escolha do novo
relator para a Lava Jato assim como na nomeação do novo ministro. São postos
muito estratégicos.
A prisão de Eike
Batista é uma bomba na cabeça da bandidagem em guerra, porque ele já iniciou
suas delações contra o PT, PMDB e PSDB.
Propinas obtidas
mediante contratos públicos favorecidos ou fraudados foram doadas para todos
esses partidos.
A promiscuidade desse
empresário falido com o mundo político e partidário é o espelho da falência do
sistema.
A carreira
privilegiada e criminosa de Eike Batista
1) O Brasil é, por
tradição, um país extrativista (saqueador), cleptocrata e sistemicamente
corrupto (desde 1500). Para conhecer por dentro as relações de poder que
privilegiam uns poucos (elites/oligarquias) em detrimento dos muitos, vale a
pena repassar a história de “sucesso favorecido” de Eike Batista.
2) Em 2012, Eike era
o 8º bilionário mais rico do mundo (Agência Bloomberg e Forbes).
A revista Veja (18/1/12)
afirmou: “É um grupo que trabalha muito, compete honestamente, orgulha-se
de gerar empregos e não se envergonha da riqueza”.
3) Era mais uma
propaganda enganosa, que custou milhões de reais aos acionistas minoritários
das empresas EBX. A historiografia, com certeza, vai registrar mais um
“aventureiro extrativista”, que se valeu dos seus contatos políticos para se
enriquecer (e gerar danos sociais incomensuráveis).
4) Pela delação (em
curso) de Mônica Moura e pela confissão dele mesmo sabe-se que parte daquela
fortuna do “campeão nacional” (conquistada em grande medida pelo acesso fácil
ao dinheiro público) foi parar nas contas no exterior do casal (Mônica/João
Santana), para pagamentos de campanhas eleitorais durante o período
lulopetista.
5) O financiamento de
campanhas (de forma lícita ou ilícita), de qualquer modo, é a via mais rápida
para se buscar um plus de enriquecimento politicamente favorecido
e/ou cleptocrata. No seu depoimento Eike informou que também deu propinas para
o PMDB (sobretudo para Cabral, no RJ) e para o PSDB.
6) O conglomerado
“campeão nacional” EBX surfou na onda do boom das commodities. A
empresa OGX prometia produzir muito petróleo e vencer a Petrobras (ambas, hoje,
estão “falidas”). Criou-se o estaleiro OSX, que transportaria minérios da MMX.
Os navios precisavam de ancoragem; aí veio a LLX com o “superporto” de Açu.
Havia ainda empresas na área de energia (MPX), carvão (CCX) e muitas outras
(ver Marcos Mendes, Por que o Brasil cresce pouco?).
7) Acesso
privilegiado ao dinheiro público subsidiado: O modelo institucional
extrativista brasileiro, desde os seus primórdios colonialistas e
neocolonialistas, é pródigo em fazer brotar fortunas bilionárias (parcial ou totalmente)
favorecidas pelo acesso privilegiado das elites/oligarquias econômicas e
políticas ao dinheiro público do BNDES, da Caixa Econômica Federal, Banco do
Brasil, fundos de pensão etc. (leia o livro “Por que o Brasil cresce pouco?”, de
Marcos Mendes).
8) “No governo Lula,
empresas do grupo EBX obtiveram do BNDES autorização para empréstimo ou
aquisição de ativos que somaram R$ 10,4 bilhões, dos quais R$ 6 bilhões foram
efetivamente liberados, de acordo com o banco” (leia o livro “Por que o Brasil
cresce pouco?”, de Marcos Mendes).
9) Em 1/7/13 começou
o colapso do grupo EBX e suas empresas passaram para o controle dos bancos.
Eike Batista está respondendo a três processos criminais (crimes contra o
mercado financeiro, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro), além de 22
processos administrativos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
10) Diante da delação
de Mônica Moura (mulher de João Santana) e da sua própria confissão poderá
também agora se sujeitar à jurisdição de Curitiba (Moro): fez pagamentos no
exterior (caixa dois) em benefício de campanhas eleitorais (do PT, por
exemplo). Também se sabe que ele contribuía com as campanhas do PMDB e do PSDB.
Suas propinas eram democráticas. São hecatômbicas as provas da sua corrupção
institucional.

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